Eu não sei o que causou meu despertar.
Tudo foi muito espontâneo, eu não tinha nenhum embasamento. Eu não fazia
nenhuma meditação. Eu não tinha lido um único livro sobre iluminação. Eu estava
no Paquistão. Então esses livros não estavam disponíveis. Na maioria das vezes
eles são escritos em Sânscrito e eu não tinha estudado Sânscrito.
Eu tinha estudado apenas o Persa. Isso veio para mim, mas como, eu não sei. Talvez ele tenha me escolhido. A Verdade revela-se para uma pessoa sagrada. Eu não tinha qualquer qualificação. Eu ainda não era educado. Eu tinha apenas oito anos de idade, estudando no segundo ano. O que eu vi então, eu continuo vendo. O que é isso? O que é isso? O que é isso? Eu estou mais e mais apaixonado por isso a cada momento que passa.
Eu tinha estudado apenas o Persa. Isso veio para mim, mas como, eu não sei. Talvez ele tenha me escolhido. A Verdade revela-se para uma pessoa sagrada. Eu não tinha qualquer qualificação. Eu ainda não era educado. Eu tinha apenas oito anos de idade, estudando no segundo ano. O que eu vi então, eu continuo vendo. O que é isso? O que é isso? O que é isso? Eu estou mais e mais apaixonado por isso a cada momento que passa.
Papaji
Entrevista com Papaji. Por Jeff Greenwald
Tradução livre: Sw. Sunder Svarupo - E-mail: andresvarupo@hotmail.com
Jeff Greenwald: Quem é você?
Papaji: Eu sou Aquilo de onde você, eu,
ele, ela e todo o resto emergem. Eu sou Aquilo.
J: O que você vê quando olha para mim?
P: O vidente.
J: Papji, como um ser acordado como
você mesmo, vê o mundo?
P: Como o meu próprio Ser. Quando
você vê suas mãos, pés, corpo, mente, sentido, intelecto, você sabe que eles
são parte de você. Você diz, "Meu"; "Eu"
inclui tudo isso. Do mesmo modo você deve ver o mundo como você mesmo, não
diferente de quem você seja. Nesse momento você entende suas mãos, seus pés,
sua unha e seu cabelo como não diferentes de você. Olhe o mundo do mesmo modo.
J: Você está dizendo que não há um
lugar onde o "Eu" termina e "você" começa?
P: Há sim. Eu o estou levando a este lugar.
J: Papa, você fala sobre liberdade. O que é liberdade?
P: Liberdade é uma armadilha! Um
homem que está preso em uma jaula, precisa ser livre, não é? Ele está
aprisionado na jaula e sabe que as pessoas do lado de fora estão livres. Vocês
estão todos em uma prisão e vocês têm ouvido falar sobre o lado de fora, através
de seus pais, seus padres e pastores, professores e pregadores. "Venha
a nós" eles dizem, "e nós lhe daremos liberdade".
"Venha a mim e eu lhe darei descanso". Esta é a promessa, mas
essa é somente mais uma armadilha. Uma vez que você acredite, você cai na
armadilha de querer liberdade. Você devia estar fora dessas duas arapucas - nem
limitação, nem liberdade - porque elas são apenas conceitos. Limitação foi um
conceito que deu origem ao conceito de liberdade. Livre-se dos dois.
J: Então onde está você?
P: Aqui. Aqui, sim. Aqui não é nem
uma armadilha de limitação nem de liberdade. Não é lá. De fato, não é nem mesmo
aqui. As palavras me parecem outra grande armadilha. Todo o tempo que tenho
estado aqui, as palavras tem sido inadequadas para expressar a natureza do
despertar que toma lugar aqui. Elas não podem nem mesmo expressar por que as
palavras são inadequadas. Eu teria que compará-las ao que é adequado e eu não
posso fazer isso em palavras.
J: Mas uma palavra que é muito
jogada por aí no oriente e no ocidente é a palavra Iluminação. É sobre isso que
você fala?
P: Iluminação é conhecimento em si
mesmo, não conhecimento de uma pessoa, uma coisa ou uma ideia. Simplesmente
conhecimento em si. Iluminação existe quando não há qualquer imaginação do passado,
do futuro ou mesmo do presente.
J: Eu não posso conceber um estado
sem qualquer imaginação!
P: Isso é o que se chama limitação.
Isso se chama sofrimento. Isso se chama Sansara. Eu lhe digo, não imagine.
Nesse presente momento, não tenha qualquer imaginação. Quando você imagina você
está construindo imagens e todas as imagens pertencem ao passado. Não recolha o
passado e não aspire a qualquer futuro. Então a imaginação se vai. Ela não
permanece mais na mente. Tudo na mente vem do passado.
J: Quando você diz para não pensar
em nada, é como me pedir para não pensar em Hipopótamo. O primeiro pensamento
que vem à mente é claro, é hipopótamo.
P: Eu não estou pedindo a você para
não pensar em nada. O que eu estou dizendo é, "não imagine coisa alguma
que pertença ao passado, ao presente e ao futuro". Se você está livre
de todas as imaginações, você também está livre do tempo, porque qualquer
imagem o lembrará do tempo e manterá você dentro dessa janela. No estado
acordado você vê imagens: de pessoas, de coisas, de ideias. Quando você vai
dormir, tudo isso se desvanece. Agora, quando você está dormindo, onde estão
todas essas imagens? Onde estão as pessoas? Onde estão as coisas?
J: Em sonho, essas coisas ainda
estão lá. Elas não vão embora quando eu durmo.
P: Você está descrevendo o estado de
sonho. Eu estou falando sobre o estado de sono. Eu lhe mostrarei. A que hora
você dorme?
J: Por volta de 11h30min da noite.
P: Pense sobre esse ultimo segundo,
aquele após 11h29min e cinquenta e nove segundos. O que acontece naquele
segundo final? O sexagésimo segundo pertence ao estado de sono ou ao estado de
vigília?
J: É uma zona intermediária, nem
aqui nem lá.
P: Agora vamos falar sobre um
segundo mais tarde. O sexagésimo segundo já se foi. Agora mesmo você falou de
"aqui" e "lá". Onde é aqui e lá no primeiro
instante de sono? Naquele instante, você rejeita tudo: todas as imagens, todas as
coisas, todas as pessoas, todos os relacionamentos. Todas as ideias se foram
naquele instante quando você saltou para dentro do sono. Após aquele sexagésimo
segundo não há nenhum tempo, nenhum espaço, nenhum país. Estamos falando agora
sobre sono. Agora, após você acordar, descreva para mim o que aconteceu
enquanto você estava dormindo.
J: Havia sonho.
P: Não sonho. Eu estou falando de
sono. Sonhar é o mesmo estado que você vê aqui em frente de você. Em sonho, se
você vê que um ladrão te roubou ou que um tigre saltou sobre você, você sente o
mesmo medo que teria no estado desperto. O que você vê quando você dorme?
J: Nada.
P: Esta é a resposta certa. Agora,
por que você rejeita todas as coisas do mundo, coisas que você gosta tanto,
meramente para oferecer-se para o estado de "nada"?
J: Eu faço porque estou cansado.
P: Para recarregar energia você vai
ao reservatório de energia, aquele estado de nada. Se você não tocar aquele
reservatório, o que acontecerá a você, como você ficará?
J: Louco!
P: Sim. Louco. Agora eu lhe direi
como permanecer continuamente naquele estado de nada, até mesmo estando
acordado. Eu também lhe direi como estar acordado enquanto seu corpo dorme.
Isso seria bom, não é? Vamos falar sobre o fim daquele último segundo antes de
você acordar do sono. O despertar ainda não aconteceu e o sono está para
terminar. Agora, qual é sua experiência no primeiro momento do estado desperto?
J: Meus sentidos me chamam de volta ao mundo.
P: Ok. Agora me diga o que acontece
com a experiência de felicidade que você teve enquanto dormia? O que você
trouxe das horas de "nada"?
J: Se foi. Eu estou relaxado, revigorado.
P: Então, você prefere a tensão do
estado desperto ao invés do relaxamento do sono?
J: Eu tenho uma pergunta sobre isso mais tarde.
P: Se você entender o que eu estou
tentando lhe passar, você provavelmente não me fará esta próxima pergunta.
Imagine que você acabou de sair do cinema após ver um show. Você vai para casa
e seus amigos lhe perguntam: "como foi?" O que você responde?
J: "Foi um belo show".
P: Você pode trazer a memória das
imagens para eles, mas você não trouxe nada de seu sono. Quem acordou? Quem
acordou daquele estado de felicidade? Você estava feliz enquanto dormia. Se não
fosse um estado de felicidade, ninguém estaria desejando "boa noite"
a seus bem-amados antes deles irem dormir. Não importa quão perto você esteja
deles, você sempre diz, "boa noite, vou dormir".
Há algo superior, algo mais alto, algo
mais belo sobre o estar só. Pergunte a si mesmo: "Quando eu acordo,
quem acorda?" Quando você acordou, você não trouxe a impressão de
felicidade que você teve por seis ou sete horas de sono sem sonhos. Você só
pode trazer impressões das danças que você viu em seus sonhos. Você tem que
criar um novo hábito, um hábito que você só pode criar em Satsang. Você foi
levado ao teatro por seus pais quando era um pequeno garoto. Através dessas
viagens você aprendeu como descrever as impressões que seus sentidos receberam,
e você também aprendeu a se deleitar com elas. Mas seus pais não puderam
ensiná-lo sobre o que acontece quando você está livre dos sentidos. Isso só
pode ser conhecido em Satsang, e esta é a razão de você estar aqui. Assim, eu
lhe perguntarei de novo: Quando você acorda, quem acorda?
J: É o "eu" que acordou.
P: Ok. O "eu"
acordou. Quando o eu acorda, o passado, o presente e o futuro também acordam.
Isso significa que o tempo e o espaço também acordam. E com o tempo e espaço
acordam, o sol, a lua, as estrelas, montanhas, rios, florestas, homens,
pássaros e animais acordam. Todos acordam. Quando o "eu"
acorda, tudo o mais acorda. Enquanto esse "eu" estava dormindo
durante o estado de sono, tudo estava quieto. Se você não tocar o "eu"
o qual acordou, você experienciará a felicidade do sono estando acordado. Faça
isso por um único segundo, meio segundo, um quarto de um único segundo. Não
toque o "eu". O "eu" é algo que podemos viver
sem. Não toque o "eu" e diga-me se você não está dormindo.
J: Está certo. Naquele instante, tudo parece como um sonho.
P: Isso é chamado acordar enquanto
dorme e dormir enquanto acordado. Você está sempre em felicidade, sempre
acordado. Esse acordar é chamado de Conhecimento, Liberdade, Verdade. Não toque
os nomes. Livre-se de todas as palavras que você já ouviu até agora, de onde
quer que seja. E você verá quem você realmente é.
J: (Silêncio).
P: Agora, não durma!
Papaji
Fonte: clarover.blogspot.com
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