SWAMI DAYANANDA
P.: Por que se diz que não há escolha quanto ao conhecimento?
R.: No capítulo número nove da
Bhagavadgita, este conhecimento é chamado de raja vidya, "o rei entre os
ramos de conhecimento". Este é o Maharaja, o "imperador" entre
"vidya" conhecimento. As áreas de conhecimento são muitas: alquimia,
astrologia, astronomia, biologia, botânica, química, lógica, linguística... Nós
podemos ter acesso a milhares de áreas de conhecimento, mas ninguém pode ter a
última palavra em nenhuma matéria. Eu não posso conhecer tudo; portanto,
preciso de muitos que se especializem em diferentes áreas. Tem de existir
alguém que saiba como se faz um automóvel. Outro tem de existir para saber o
que envolve a criação de um foguete ou um avião. Alguém precisa ser capaz de
indagar sobre meu corpo ou minha mente, mas um não pode ser tudo. Por isso um
advogado com um problema de saúde vai a um médico e o médico vai a um advogado
se estiver metido em uma complicação judicial. Assim, ajudamos uns aos outros,
nós vivemos. Eu posso escolher qualquer ramo de conhecimento. Nesta escolha eu
não perco nada, pois em qualquer caso eu terei de consultar a mais alguém. É
assim que um ser relativo tem de conduzir suas transações com este mundo.
Em todos estes ramos de conhecimento,
se há algum conhecimento no qual não se tem escolha, que todos devem possuir e que
em sendo conhecido, você se torna tão grande que a sua altura sequer pode ser
medida, é o conhecimento sobre você, este que segue adiante adquirindo qualquer
outro conhecimento. É uma perda de tempo, um grande desperdício se não é
encontrado quem segue adiante conhecendo os objetos! Se aquele que conhece não
é consciente de si mesmo, se a sua razão de ser na vida não é conhecida, então
sua vida não é significativa. Se não conheço a mim mesmo, qual o valor das
metas alcançadas? Eu tenho apenas uma mente imatura. Eu posso conduzir meus
relacionamentos, mas serei sempre uma pessoa confusa, confundindo a todos os
demais. Se eu estou confuso, não tenho como realizar qualquer integração na
sociedade.
Portanto, o conhecimento de si mesmo
você precisa ter. O conhecimento também o torna tão diferente que isto não está
dentro do âmbito de uma escolha. Este é um conhecimento de algo que, uma vez
conhecido, tudo o mais é como que bem conhecido. Quando você conhece uma coisa, não conhece uma outra, mas quando você conhece a si mesmo, você conhece a verdade subjacente a toda a
criação e, desta forma, tudo o mais está como que bem conhecido.
Pela sua própria natureza, não há
escolha quanto ao conhecimento do Ser, pois o Ser sou eu mesmo. Não é existente
e nem não-existente, nem o conhecido, nem o que não é conhecido. Estes opostos
são objetos de conhecimento do sujeito, o Ser. Nem existe nada além do Ser,
para que eu escolha o Ser dentre "outras" coisas. Entre os
"conhecidos" há alguma escolha. Quanto ao conhecimento do Ser que é
ambos, quem conhece e o que é conhecido, não há escolha.
P.: Parece-me
que Vedanta alcança uma pessoa apenas no nível intelectual. Isto é correto?
R.: Não há nada
de intelectual no conhecimento do Ser, eu lhe garanto! Intelectual é o que é
chamado de inferencial ou especulativo. Nós precisamos definir bem os nossos
termos. Quando você diz "intelectual", você se refere a alguma coisa
à qual você chegou por inferência. Você não pode ser inferido. Você é Atma (o
conteúdo da primeira pessoa do singular, eu) - já existente. Não há nada de
inferencial nisto, quer você se veja como é realmente, quer você tome a você
mesmo como sendo outro, diferente do que você é realmente. Em ambos os casos o
conhecimento é imediato - aparoksa. Vedanta não fica teorizando sobre quem você
é. Ele diz que você é aquele. Você pode ver o significado da sentença? Quando
você vê, não há nada de inferencial nisso, não é intelectual - é conhecimento
direto.
Ver a você próprio é algo como me ver.
Quando você me vê, não é inferencial, não é intelectual - é percepção direta.
De maneira semelhante você existe, mas toma a você mesmo como sendo outro
diferente do que é realmente. Suas experiências parecem confirmar suas noções
sobre você mesmo. O professor analisa essas experiências, as suas experiências.
Ele não fala de alguma incomum experiência pessoal, que ele possa ter tido, com
o objetivo de lhe dar algum conhecimento indireto de algo. Quando ele analisa
as suas próprias experiências, como o estado de sonho, o estado de sono e o
estado desperto, tristeza e alegria, desta forma lhe auxiliando a se ver como
você realmente é, você diz "sim, é verdade". Quando você diz ser
verdade, não é nem intelectual e nem perceptual. É um auto reconhecimento
nascido de palavras. É conhecimento direto. É direto assim como o conhecimento
que você tem quando, abrindo os seus olhos, você me vê. Acreditar que o
conhecimento do ser seja algo intelectual é um condicionamento. Você pode
acreditar que exista um Ser a ser conhecido. Tal estado é ainda ignorância - e
não conhecimento, direto ou intelectual.
Dayananda Saraswati
Fonte: www.vidyamandir.org.br
Continuação
Fonte: www.vidyamandir.org.br
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