Não há nada separado de você. Você é a totalidade que existe
Atmavijnana, autoconhecimento não é
subjetivo porque o "eu" é um e não muitos. Mas a nossa crença é de
que existem muitos "eus". É por isso que eu sou um ninja. O mundo é
diferente, Deus é diferente, os devatäs são diferentes, eu sou diferente. Nós
não vemos o atma como um. Nós vemos o atma como se fossem muitos. É dessa
mesma visão que surge o ninja, pois existem outros me ameaçando. Antes que eles
me ataquem, eu os ataco! Mas, se conforme a visão de Vedanta, o Ser é um e não
dois, isto significa que eu não tenho ninguém contra quem lutar.
Por toda a
nossa vida nós nos posicionamos com uma das mãos levantada para nos defendermos
e a outra pronta para bater. Alguém me perguntou o que é paciência, o que é
tolerância, o que é esta capacidade de suportar o que acontece, chamada
titikñä. Você sabe o que é isso quando morde a língua. Você não puxa a língua
para fora da boca e a decepa! Você não pode realmente fazer coisa alguma, pois
você não pode ser um ninja contra você mesmo. Você está presente em sua língua,
assim como em seus dentes também. Onde há unidade, não há luta.
Todo o problema
de lutar contra os outros é devido à minha visão do mundo como algo totalmente
diferente daquilo que eu sou. As Upaniñads afirmam que isto é devido ao fato de
você pensar que existem muitos atmas, mas há apenas um atma, não apenas com
referência a indivíduos e seres vivos, mas até mesmo com referência ao mundo
que você considera como sendo diferente de você. O mundo também não está
separado de você. A assim chamada "separação" não é intrinsecamente
verdadeira.
Se esta é a visão de Vedanta sobre
você, ela é comunicável. É um fato que atma é um, não-dual e que não há nada
separado de você. Você é a totalidade que existe. Você pensa ser uma parte
infinitesimal e não gosta nada disso. Mas as Upaniñads dizem "Você é
pürëaù, o todo". O fato de que você é o todo é comunicável. Não fosse
comunicável, não seria conhecimento. Tornar-se-ia algo subjetivo.
Um sujeito
diz que o atma é bonito, mas um outro diz: "que tipo de beleza?",
pois o seu gosto é diferente. Vedanta comprometido com esta visão da unidade do
Ser revela este fato através de palavras próprias para comunicar e, assim,
remover a causa para a insatisfação consigo mesmo. Este é o problema básico.
Nós desejamos satisfazer o Ser insatisfeito e pensamos: "Eu estou
insatisfeito porque não tenho isso, não tenho aquilo". São desvarios.
O "eu" é uma entidade que é completa e ilimitada. Na verdade, não há
outra entidade. Somente há uma entidade e ela é você. Como isto pode ser
egoísta? Ser egoísta é reconhecer um outro ser. A beleza aqui é que o Ser é o
todo e essa totalidade é aplicável a todos.
Um katori, uma cumbuca, tem um certo
espaço dentro de si que é chamado "espaço de katori". O espaço dentro
de um copo é chamado "espaço de copo". O espaço dentro de um pote é
chamado "espaço de pote". Suponha que o katori pense: "Oh, eu
sou um espaço pequeno. Veja este pote, esta sala, que espaços grandes!"
Se este espaço de katori tivesse uma mente e uma identidade própria para dizer
"eu sou um espaço de katori", e se o katori for o seu corpo,
ele então, naturalmente, irá ter um senso de limitação e irá se comparar com
outros espaços de pote e de sala. Vedanta diz: "Você não é espaço de
katori. Você é espaço, o espaço que em todos os lugares existe, espaço que a
tudo acomoda, o espaço que tudo penetra". Agora, quantos espaços
existem? Existe apenas um espaço. Não há um segundo espaço. Todo o universo
físico está acomodado no espaço. O espaço é ilimitado e o "espaço de
katori" existe somente de um determinado ponto de vista. O espaço que é
"eu" é ilimitado, há apenas um espaço.
Não existe a questão da limitação e
qualquer sofrimento devido à limitação é devido ao desconhecimento de que eu
sou aquele único, total, ilimitado espaço. Devido a esta ignorância, existe o
erro. O problema de sentir-se pequeno é o problema da insatisfação consigo
mesmo. Para resolver este problema, o katori quer tornar-se pote, o pote quer
tornar-se a sala, a sala quer tornar-se uma sala ainda maior. Por um processo
de vir-a-ser, como é possível tornar-se o Todo? Não há necessidade de
tornar-se. Já é o espaço ilimitado.
Na visão de Vedanta, não há uma segunda
entidade. O Ser é o todo e, portanto, não há qualquer razão de insatisfação.
Insatisfação é o anartha. Anartha significa aquilo que eu não quero. Ninguém
quer insatisfação, mas ela é universal, nascida da ignorância. O
autoconhecimento é oposto àquela ignorância e Vedanta existe para lhe dar este
conhecimento. Diga-me: existe opção quanto a este conhecimento? Quais as opções
que você tem? É como perguntar: "devo respirar ou não?" Neste
conhecimento de atma, ekatva - a unidade do Ser - você não tem escolha, não tem
opções. Para tudo o mais você tem opção. Todo o mundo, todos os seus
puruñärthas, seus objetivos, estão cheios de opções. Por ninguém querer ser
descontente, ninguém quer ser um ninja, portanto não há escolha quanto a este
conhecimento. Você tem que conhecer a você mesmo. E com o objetivo de levar você
a compreender a unidade do atma, todas as Upanishads se iniciam.
Dayananda Saraswati
Fonte: www.vidyamandir.org.br
Continuação
Fonte: www.vidyamandir.org.br
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