Diálogos com Nisargadatta Maharaj
Por favor, entenda que eu não tenho
nada para dar a vocês. Tudo o que faço é pôr diante de vocês um espelho
espiritual para mostrar sua verdadeira natureza. Se o significado do que digo
for entendido claramente, intuitivamente – não apenas de forma verbal –, e
aceito com a mais profunda convicção e a mais urgente rapidez, não será mais
necessário nenhum conhecimento. Este entendimento não é uma questão de tempo
(de fato, é anterior ao conceito de tempo) e, quando ele acontece, acontece
repentinamente, quase como um choque de compreensão atemporal.
Conserve na mente o sentimento "eu
sou", fundindo-se nele até que sua mente e seu sentimento se tornem
um. Por tentativas repetidas, você topará com o equilíbrio adequado de atenção
e afeto, e sua mente estará firmemente estabelecida no pensamento-sentimento
"eu sou". Não importa o que você pense, diga ou faça, este
sentido de ser imutável e afetuoso permanecerá como o sempre presente
fundamento da mente.
Tudo o que teve princípio deverá ter
fim
Questionador: Encontrei-me com muitas
pessoas realizadas, mas nunca com um homem liberado. Você já conheceu algum
homem liberado, ou a liberação significa, entre outras coisas, abandonar também
o corpo?
Maharaj: O que você quer dizer por
realização e liberação?
Q: Por realização quero dizer uma
experiência maravilhosa de paz, bondade e beleza, quando o mundo tem sentido, e
há uma total unidade de substância e essência. Apesar de tal experiência não
durar, não pode ser esquecida. Brilha na mente como recordação e desejo. Sei do
que estou falando porque tenho tido tais experiências.
Por liberação quero dizer estar
permanentemente nesse maravilhoso estado. O que pergunto é se a liberação é
compatível com a sobrevivência do corpo.
M: Que está errado com o corpo?
Q: O corpo é muito débil e de
breve duração. Cria necessidades e desejos. Limita-nos dolorosamente.
M: E daí? Deixe que as expressões
físicas sejam limitadas. Mas a liberação é liberação do ser de suas ideias
falsas e auto impostas; não está contida em nenhuma experiência particular, por
mais gloriosa que seja.
Q: Dura para sempre?
M: Toda experiência é limitada no
tempo. Tudo o que teve princípio deverá ter fim.
Q: De modo que a liberação, em meu sentido da palavra, não existe?
M: Pelo contrário, sempre se é
livre. Você é consciente e livre para ser consciente. Ninguém pode tirar isto
de você. Você já se conheceu alguma vez estando inconsciente ou sem existência?
Q: Eu posso não lembrar, mas isto
não prova que ocasionalmente não esteja inconsciente.
M: Por que não passar da experiência
para o experimentador e compreender todo o alcance da única afirmação
verdadeira que pode fazer: "Eu sou"?
Q: Como isto é feito?
M: Aqui não há "como".
Só conserve na mente o sentimento "eu sou", fundindo-se nele
até que sua mente e seu sentimento se tornem um. Por tentativas repetidas, você
topará com o equilíbrio adequado de atenção e afeto, e sua mente estará
firmemente estabelecida no pensamento-sentimento "eu sou". Não
importa o que você pense, diga ou faça, este sentido de ser imutável e afetuoso
permanecerá como o sempre presente fundamento da mente.
Q: E você o chama liberação?
M: Chamo-o o normal. Que há de mal
em ser, conhecer e atuar sem esforço e com muita alegria? Por que considerá-lo
inusual a ponto de esperar a destruição imediata do corpo? Que está errado com
o corpo para que tenha que morrer? Corrija sua atitude em relação ao corpo e
não o incomode. Não o mime, não o torture. Simplesmente deixe-o ir, muitas das
vezes abaixo do limiar da atenção consciente.
Q: A recordação de minhas
experiências maravilhosas me persegue. Quero-as de volta.
M: Porque as quer de volta, não pode
tê-las. O estado de ansiedade por qualquer coisa bloqueia toda experiência
profunda. Nada de valor pode ocorrer a uma mente que sabe exatamente o que
quer, porque nada que a mente possa visualizar e querer será de muito valor.
Q: Então, o que vale a pena querer?
M: Queira o melhor. A mais alta
felicidade, a maior liberdade. A ausência de desejos é a mais elevada
bem-aventurança.
Q: Estar livre de desejos não é a
liberdade que eu quero. Eu quero a liberdade de satisfazer meus desejos.
M: Você é livre para satisfazer seus
desejos. De fato, não está fazendo outra coisa.
Q: Eu tento, mas existem obstáculos que me deixam frustrado.
M: Supere-os.
Q: Não posso, sou demasiado fraco.
M: Supere-os.
Q: Não posso, sou demasiado fraco.
M: O que o faz fraco? Que é esta
fraqueza? Outros satisfazem seus desejos, por que você não?
Q: Talvez me falte energia.
M: O que aconteceu a sua energia?
Para onde foi? Não a dispersou em muitos desejos e ocupações contraditórios?
Você não tem uma provisão infinita de energia.
Q: Por que não?
M: Os seus objetivos são pequenos e
baixos. Não pedem por mais. Apenas a energia de Deus é infinita porque Ele não
quer nada para si mesmo. Seja como Ele e todos os seus desejos se realizarão.
Quanto mais elevados forem seus objetivos e mais amplos seus desejos, mais energia
terá para sua satisfação. Deseje o bem de todos e o universo trabalhará com
você. Mas, se quiser seu próprio prazer, terá que ganhá-lo duramente. Antes de
desejar, mereça.
Nisargadatta Maharaj
Fonte: busca-espiritual.blogspot.com
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