A realidade deve ser sempre real. Ela
não tem nomes ou formas, mas é ela que constitui a base das formas e nomes. Ela
está dando base a todas as limitações, sendo ela própria ilimitada. Não é
limitada de forma nenhuma. Ela dá base às irrealidades, sendo ela própria Real.
Ela é aquilo que é. Ela é como é. Transcende o discurso e está além de
descrição, tal como presença ou a ausência do Ser.
Você vê várias cenas passando na tela
de um cinema: o fogo parece queimar edifícios até reduzi-los a cinzas; a água
parece naufragar navios, mas a tela em que as imagens são projetadas permanece
sem ser queimada e seca. Por quê? Porque as imagens são irreais e a tela é
real. Do mesmo modo, reflexos passam diante de um espelho, mas esse não é afetado
de maneira nenhuma pelo número ou pela qualidade dos reflexos.
É a ilusão que faz a pessoa tomar por
inexistente e irreal, aquilo que está sempre presente e que penetra tudo, que é
cheio de perfeição e auto luminoso e que é, de fato, o Ser e o núcleo do próprio
Ser da pessoa. Inversamente, é a ilusão que faz a pessoa considerar como real e
auto existente o que é inexistente e irreal, ou seja, a trilogia - o mundo, o
ego e Deus.
O mundo, o indivíduo e Deus são, tal
como a aparência ilusória da prata na madrepérola, criações imaginárias no Ser.
Eles aparecem e desaparecem simultaneamente. Na verdade, o Ser sozinho é o
mundo, o "eu" e Deus. Tudo o que existe é apenas uma manifestação do
Supremo.
Para aqueles que não realizaram o Ser, bem como para aqueles que realizaram, o mundo é real. Mas, para os primeiros, a verdade é adaptada à forma do mundo, enquanto que para os últimos a Verdade brilha como a Perfeição sem forma e como o substrato do mundo. Esta é a única diferença entre eles.
O mundo é irreal como mundo, mas real
como o Ser. Se você considerar o mundo como não sendo o Ser, ele não é real.
Tudo, você chamando-o de ilusão (Maya) ou de Jogo Divino (Leela) ou Energia
(Shakti) deve estar dentro do Ser e não aparte dele.
O mundo é irreal como mundo, mas real com o Ser
Devoto: O ensinamento do Bhagavan é o
mesmo do que o do Shankara?
Bhagavan: O ensinamento do Bhagavan é uma
expressão da própria experiência e realização dele. Os outros acham que ele
coincide com o do Sri Shankaracharya.
Devoto: Quando o Upanishads diz que tudo
é Brahman, como podemos concordar com Shankara que este mundo é ilusório?
Bhagavan: Shankara disse também que este
mundo é Brahman ou o Ser (Self). O que ele se opunha é que se imagine que o Ser
está limitado pelos nomes e formas que constituem o mundo. Ele apenas disse que
o mundo não tem qualquer realidade aparte de Brahman.
Brahman ou o Ser é como uma tela de
cinema e o mundo como as imagens nela. Você pode ver a imagem apenas enquanto
haja uma tela. Mas quando o próprio observador se torna a tela, apenas o Ser
permanece.
As pessoas têm criticado Shankara por
sua filosofia de Maya (ilusão) sem compreenderem seu significado. Ele fez três
declarações: que Brahman é real, que o universo é irreal, e que Brahman é o
Universo. Ele não para com a segunda. A terceira declaração explica as duas
primeiras, que significa que, quando o Universo é percebido aparte de Brahman,
aquela percepção é falsa e ilusória. O que isso significa é que os fenômenos
são reais quando experimentados como sendo o Ser e ilusórios quando vistos
aparte do Ser. Apenas o Ser existe e é real.
O mundo, o indivíduo e Deus são, tal
como a aparência ilusória da prata na madrepérola, criações imaginárias no Ser.
Eles aparecem e desaparecem simultaneamente. Na verdade, o Ser sozinho é o
mundo, o "eu" e Deus. Tudo o que existe é apenas uma manifestação do
Supremo.
Devoto: O que é a realidade?
Bhagavan: A realidade deve ser sempre real.
Ela não tem nomes ou formas, mas é ela que constitui a base das formas e nomes.
Ela está dando base a todas as limitações, sendo ela própria ilimitada. Não é
limitada de forma nenhuma. Ela dá base às irrealidades, sendo ela própria Real.
Ela é aquilo que é. Ela é como é. Transcende o discurso e está além de
descrição, tal como presença ou a ausência do Ser.
Devoto: Os budistas negam o mundo
enquanto que a filosofia hindu reconhece a sua existência, mas chama-lhe de
irreal, não é assim?
Bhagavan: É apenas uma diferença de ponto de vista.
Devoto: Eles dizem que o mundo é criado
pela Energia Divina (Shakti). O conhecimento da irrealidade é devido ao véu da
ilusão (Maya)?
Bhagavan: Todos admitem a criação pela
Energia Divina, mas qual é a natureza dessa energia? Ela deve estar em
conformidade com a natureza de sua criação.
Devoto: Existem graus de ilusão?
Bhagavan: A própria Ilusão é ilusória. Ela
deve ser vista por alguém fora dela, mas como pode tal observador estar sujeito
a ela? Então, como é que ele pode falar sobre os graus dela? Você vê várias
cenas passando na tela de um cinema: o fogo parece queimar edifícios até
reduzi-los a cinzas; a água parece naufragar navios, mas a tela em que as
imagens são projetadas permanece sem ser queimada e seca. Por quê? Porque as
imagens são irreais e a tela é real. Do mesmo modo, reflexos passam diante de
um espelho, mas esse não é afetado de maneira nenhuma pelo número ou pela
qualidade dos reflexos.
Da mesma forma, o mundo é um fenômeno
sobre o substrato da Realidade única a qual não é afetada por ele de maneira
nenhuma. A Realidade é apenas uma. Falar da ilusão deve-se apenas ao ponto de
vista. Mude seu ponto de vista para o do conhecimento, e você perceberá o
universo como sendo apenas Brahman. Estando agora imerso no mundo, você o vê
como um mundo real; vá além dele e ele irá desaparecer e apenas a Realidade
permanecerá.
O mundo é percebido como uma aparente
realidade objetiva quando a mente está externalizada, abandonando assim a sua
identidade com o Ser. Quando o mundo é assim percebido a verdadeira natureza do
Ser não é revelada; de maneira inversa, quando o Ser é realizado, o mundo deixa
de aparecer como uma realidade objetiva.
É a ilusão que faz a pessoa tomar por
inexistente e irreal, aquilo que está sempre presente e que penetra tudo, que é
cheio de perfeição e auto luminoso e que é, de fato, o Ser e o núcleo do
próprio Ser da pessoa. Inversamente, é a ilusão que faz a pessoa considerar
como real e auto existente o que é inexistente e irreal, ou seja, a trilogia -
o mundo, o ego e Deus.
Para aqueles que não realizaram o Ser,
bem como para aqueles que realizaram, o mundo é real. Mas, para os primeiros, a
verdade é adaptada à forma do mundo, enquanto que para os últimos a Verdade
brilha como a Perfeição sem forma e como o substrato do mundo. Esta é a única
diferença entre eles.
Devoto: Bhagavan diz que o irreal
(mithya, imaginário) e o real (Satyam) significam a mesma coisa, mas eu não
entendo muito bem.
Bhagavan: Sim, eu digo isso às vezes. O que
você quer dizer por real? O que você chama de real?
Devoto: Segundo o Vedanta, somente aquilo
que é permanente e imutável pode ser chamado real. Esse é o significado de
realidade.
Bhagavan: Os nomes e formas que constituem
o mundo mudam e perecem continuamente e são, portanto, chamados de irreais. É
irreal (imaginário) limitar o Ser a esses nomes e formas, e é real considerar a
tudo como sendo o Ser. O não-dualista diz que o mundo é irreal, mas também diz,
"Tudo isto é Brahman". Então é claro que o que ele condena é,
considerar o mundo como objetivamente real por si só, sem considerá-lo como
Brahman. Aquele que vê o Ser vê também no mundo apenas o Ser.
É irrelevante para o Iluminado se o
mundo aparece ou não. Em ambos os casos, a sua atenção está voltada para o Ser.
É como as letras e o papel no qual elas são impressas. Você está tão absorto
nas letras que você esquece a respeito do papel, mas o Iluminado vê o papel
como o substrato, estejam as letras aparecendo nele ou não. O Vedanta não diz
que o mundo é irreal. Isso é um equívoco. Se eles dissessem, qual seria o
significado do texto Vedântico: "Tudo isto é Brahman?" Eles só querem
dizer que o mundo é irreal como mundo, mas real como o Ser. Se você considerar
o mundo como não sendo o Ser, ele não é real. Tudo, você chamando-o de ilusão
(Maya) ou de Jogo Divino (Leela) ou Energia (Shakti) deve estar dentro do Ser e
não aparte dele.
Devoto: Os Vedas contêm considerações
conflitantes sobre cosmogonia. O éter é dito ser a primeira criação em um
lugar, a energia vital num outro, a água em outro, outra coisa em outra parte
dos textos; como pode tudo isso ser reconciliado? Isso não prejudica a
credibilidade dos Vedas?
Bhagavan: Diferentes visionários viram
diferentes aspectos da verdade em momentos diferentes, cada um destacando algum
ponto de vista. Por que você se preocupa com as declarações conflitantes deles?
O objetivo essencial dos Vedas é nos ensinar a natureza do Ser imperecível e nos
mostrar que somos Aquilo.
Devoto: A esse respeito estou satisfeito.
Bhagavan: Então trate todo o resto como
argumentos auxiliares ou como exposições para o ignorante que queira saber a
origem das coisas.
Esses trechos lidam com teorias da
criação. Elas não são essenciais, pois o verdadeiro objetivo das escrituras não
é estabelecer tais teorias. Elas mencionam as teorias casualmente, para que os
leitores que desejarem possam ter interesse nelas. A verdade é que o mundo
aparece como uma sombra passageira numa enchente de luz. A luz é necessária
mesmo para ver a sombra.
A sombra não é valiosa o suficiente
para ser digna de qualquer estudo especial, de análises ou discussões. O
objetivo do livro é lidar com o Ser e o que é dito sobre a criação deve ser
omitido no presente momento. O Vedanta diz que o cosmos brota à vista
simultaneamente com aquele que o vê, e não há processo detalhado de criação. É
semelhante a um sonho, onde aquele que experimenta o sonho surge em simultâneo
com o sonho que ele experimenta. No entanto, algumas pessoas apoiam-se tanto no
conhecimento objetivo, que elas não estão satisfeitas quando lhe dizem isso.
Elas querem saber como de súbito a criação pode ser possível, e argumentam que
um efeito deve ser precedido por uma causa. Na verdade, eles desejam uma
explicação do mundo que veem acerca de si. Por isso as escrituras tentam
satisfazer sua curiosidade através de tais teorias. Este método de lidar com o
assunto é chamado de teoria da criação gradual, mas o verdadeiro buscador espiritual
pode ficar satisfeito com a criação instantânea.
Ramana Maharshi
Fonte: ricardo-yoga.blogspot.com
Fonte: ricardo-yoga.blogspot.com
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