Em
um silente momento de contemplação, quando eu me dirijo à luz da Consciência,
despojado de todos os objetos, incluídos meu próprio corpo, sentimentos,
pensamentos, eu diviso a mim mesmo.
Neste momento como estamos, nós vivemos sem conhecimento de quem somos - ébrios, tolos ou lunáticos fugidos de algum asilo. Em nossa presente condição jamais podemos manter um relacionamento apropriado com os seres e objetos do mundo.
Cada um de nós está condicionado por suas concepções anteriores, seguindo pela vida afora atrás de falsas esperanças, loucas ambições e ideias fúteis e inúteis. Chega disso! Busque e conheça quem você é. Eu sou indescritível. Eu não caio em nenhuma categoria. Eu sou você - você mesmo em sua pureza. Portanto onde você é puro, você é Chinmaya. Em sua confusão você me chama "mestre" ou "santo", mas eu sou tão somente você mesmo, redimido de suas próprias confusões.
Eu sou tão somente você mesmo, redimido de suas próprias confusões
Pergunta: Swamiji, quem é você?
Resposta: "Quem
eu sou?" é um tema exposto por Ramana Maharshi. O questionamento de quem
eu sou é uma busca pelo sujeito. Esta busca é distinta de qualquer outra no
mundo material. Cientistas, céticos e ateus buscam a verdade no mundo exterior.
Nada há de errado nisso, uma vez que os levará por fim aos caminhos do
questionamento da subjetividade. Quando um artista moderno pinta um quadro
repulsivo, uma pessoa pode se sentir repelido por sua feiura. Entretanto, o
artista estava sendo honesto na medida em que expressava suas experiências
íntimas acuradamente. Aqueles que compartilharem a condição mental do artista
sentir-se-ão excitados e solidários na contemplação de tais retratos de tumulto
íntimo.
De
maneira semelhante, os cientistas, em sua natural extroversão mental, buscam a
verdade no mundo exterior. Eles não são capazes nem de apreciar e nem de
compreender o valor dos sábios contemplativos e de suas vastas vivências.
Desde tempos imemoriais, os mestres da tradição védica e os filósofos ocidentais têm buscado o Ser. Platão expressou isso na ideia "Conheça a si mesmo"; Buddha, emergindo da tradição hindu, falou do estado de nirvana, que se assemelha à visão hindu de "um Ser onipresente".
As escrituras hindus tratam exaustivamente deste assunto. Não que isto seja uma glória específica dos hindus. Ocorre que eles dirigiram seu gênio à investigação deste tema por um longo período de contínuo questionamento. O Ocidente, por outro lado, teve um considerável progresso tecnológico, não necessariamente devido a uma graça específica do Senhor, mas devido ao caráter ocidental, revoltado contra a "idade das trevas" dos tempos medievais e dirigido aos aspectos mais racionais e diretamente observáveis da vida.
O
mundo exterior é como que inexistente para quem não o experiencia. As cataratas
do Niágara - para muitos de nós - consistem de uma imagem mental colhida de
palavras ou imagens. Mas para aqueles que estiveram lá frente a elas e
intelectualmente e emocionalmente experienciaram sua majestade, para estes as
cataratas são muito reais. Os antigos rsis do período védico declararam que o
mundo objetivo tem validade somente devido a "mim", o sujeito. Eles
dirigiram sua atenção a uma busca pelo Ser enquanto o Ocidente se concentrou em
aprender mais a respeito do mundo dos fenômenos observáveis. A ciência que
explana e expõe o mundo subjetivo torna-se conhecida como espiritualidade em
contraste evidente às ciências objetivas dos tempos modernos.
Os
cientistas compromissados com o estudo do Sujeito - profetas, santos, sábios, mestres
- investigaram a totalidade da pessoa, não meramente a sua estrutura anatômica,
suas funções biológicas, seus movimentos psicológicos, suas habilidades
intelectuais, todas pertencentes ao reino da ciência objetiva. Eles
investigaram o ser humano como o "experienciador" desta vida, que
colhe suas experiências não somente no estado acordado, mas também no campo dos
sonhos e no reino do sono profundo. Os filósofos ocidentais, por outro lado,
divisaram o ser humano unicamente em seu parcial estado "desperto".
Apenas na última década, se tanto, iniciaram sem maiores interesses seus
estudos com o "adormecido" e suas experiências.
Os
mestres hindus fizeram uma importante descoberta, resultante de suas exaustivas
observações do desempenho total do indivíduo, em sua peregrinação do útero ao
túmulo. Todas as experiências nos três estados de consciência (acordado,
sonhando e em sono profundo), eles disseram, são experiências "dele".
"Ele" é o sujeito. A busca, agora, é dirigida à questão "Quem eu
sou"- quem é este que, em última instância experiência as alegrias e
tristezas das situações e circunstâncias no estado acordado, no estado de sonho
e no estado de sono profundo?
Neste
momento pode ser vantajoso para você se, por um instante, parar para analisar o
que constitui o conhecimento de uma experiência. Por favor, pense comigo.
Coisas constantemente se processam em torno de você. Do que você não está
consciente, não é uma experiência para você. Neste mesmo momento, um amigo
querido pode ter se acidentado em alguma outra parte do mundo. Isto aconteceu,
mas não foi experienciado por você. O telegrama chega à noite e só então você
se torna consciente da trágica ocorrência. Logo, consciência de uma coisa é
conhecimento desta coisa.
O
conhecedor em cada um de nós é, portanto "Eu", uma corrente de
consciência de coisas. (Meu caro leitor faça, por favor, uma pausa aqui e pense
antes de prosseguir. Quando você tiver assimilado a ideia, continue).
Suponha
que quando em profunda meditação você eleve sua mente para além das
experiências dos objetos. Você não estará em um estado de Pura Consciência
unicamente, a luz na qual você se torna "consciente de" coisas?
Pense.
Esta
"consciência isenta de objetos" é a sua real natureza. A luz no mundo
ilumina os objetos. Quem ilumina é distinto do que é iluminado. Na luz em si
não há objetos. Na luz do sol não existe nenhum mundo, entretanto o mundo é
iluminado pela luz do sol.
Em um silente momento de contemplação, quando eu me dirijo à luz da Consciência, despojado de todos os objetos, incluídos meu próprio corpo, sentimentos, pensamentos, eu diviso a mim mesmo.
Neste momento como estamos, nós vivemos sem conhecimento de quem somos - ébrios, tolos ou lunáticos fugidos de algum asilo. Em nossa presente condição jamais podemos manter um relacionamento apropriado com os seres e objetos do mundo.
Cada um de nós está condicionado por suas concepções anteriores, seguindo pela vida afora atrás de falsas esperanças, loucas ambições e ideias fúteis e inúteis. Chega disso! Busque e conheça quem você é. Eu sou indescritível. Eu não caio em nenhuma categoria. Eu sou você - você mesmo em sua pureza. Portanto onde você é puro, você é Chinmaya. Em sua confusão você me chama "mestre" ou "santo", mas eu sou tão somente você mesmo, redimido de suas próprias confusões.
P.: Podem ciência e religião coexistirem?
R.:
Você está falando em linguagem do século 19. No século passado esta pergunta
seria válida. Não é mais. Física e metafísica estão unidas hoje.
Aquele
livro sobre o conserto das motocicletas (Zen and the art of motorcycle
maintenance) - um livro magnífico. Como nossos textos védicos. Nós sempre
estudamos as ciências materialísticas junto com as ciências religiosas. Esta
integração sempre houve em nossas escrituras. Ayurveda - a ciência medicinal -
é parte de nossos Vedas. É somente através das ciências materialísticas que
podemos alcançar o mais alto. Nós fomos mandados para cá para mascar
exaustivamente o mundo ao nosso redor - mascá-lo e cuspir sem arrependimento.
Chinmayananda
Fonte: https://www.vidyamandir.org.br
Continuação...
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