O bicho da seda tira a seda de si e fica presa no casulo que ela própria constrói ao redor de si para sua proteção
Se jiivaatman (o
indivíduo) surge de paramaatman (a totalidade), como ele se torna contaminado
pelas vasana do mundo pela primeira vez (no primeiro nascimento)?
O tempo surge de paramaatma (brahman)
que, por sua vez está além do tempo. A distância entre dois pontos é chamada de
espaço. Por exemplo, um espaço de 5 cm entre o ponto A e o B. Mas qual é a
distância no ponto A? É zero. Distância, o espaço, só existe entre o ponto A e
o B. Da mesma forma, entre dois pensamentos, há um tempo. No momento do
pensamento não há tempo, pois esta é a medida entre dois pensamentos.
Durante o sono profundo, sem sonhos,
não temos percepção do tempo porque não há pensamentos. Quando não há
pensamentos, não há concepção de tempo. Quando acordamos, há um novo evento.
Como temos um outro evento anterior, de quando fomos dormir, temos uma
experiência de tempo.
Em brahman não há pensamentos e somos
brahman. Se no início há brahman, onde não há pensamento, então o primeiro
evento é o primeiro pensamento, que acontece em brahman. Quando somos
conscientes do primeiro pensamento, então há a consciência, o primeiro evento.
Quando o segundo pensamento surge, cria-se o tempo, a distância entre o
primeiro e o segundo pensamento. Quando surge o terceiro pensamento, já há o
fluxo da mente.
A criação da vasana só pode ocorrer no
conceito de tempo. Porque no tempo há eventos, pensamentos, experiências e,
consequentemente, impressões. E quando surge a primeira vasana? As vasana são
as pegadas dos nossos pensamentos, das nossas atividades, ações. Então se
poderia supor que a primeira vasana surge com a primeira experiência, no
primeiro evento, mas não é esse o caso.
Imagine que estamos andando em uma
calçada de cimento em frente a uma praia. Ao começarmos a caminhar pela areia,
colocamos o primeiro pé, mas esta marca ainda não é uma pegada, pois estamos
com o corpo neste local. Quando colocamos o segundo pé, criamos uma segunda
marca, porém ainda não é uma pegada, pois também estamos com corpo sobre ela. E
é somente quando retiramos um dos pés, para dar o terceiro passo, é que temos a
primeira pegada, a primeira vasana. Assim, a primeira vasana só pode surgir no
terceiro pensamento. No segundo pensamento se cria o tempo, a menor unidade de
tempo, o "segundo", e por isso não o chamamos de "primeiro".
No primeiro "segundo" temos a
consciência. E, voltando a pergunta inicial "como somos contaminados pelas
vasana do mundo?", eu não sei! Com o primeiro, o segundo e o terceiro
pensamentos, eu não posso de fato ser contaminado ou preso pelas vasana, pois
as vasana só existem no tempo e eu sou livre do tempo, que existe como uma
experiência para mim. Basta que eu volte a causa inicial que é brahman, minha
própria identidade livre do tempo, assim como o bicho da seda, que tira a seda
de si e fica presa no casulo que ela própria construiu ao redor de si para sua
proteção. Ou uma pessoa que construiu uma casa por dentro e, ao final do último
tijolo, percebe que se esqueceu de deixar janelas ou portas; criou uma tumba
para si! Quando se sentir preso pelas vasana, vá além da mente!
Chinmayananda
Fonte: www.vedanta.pro.br
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